Ora, tinha Epimeteu em seu poder uma caixa que outrora lhe haviam dado os deuses, que continha todos os males. Avisou a mulher que não a abrisse. Pandora não resistiu à curiosidade. Abriu-a e os males escaparam. Por mais depressa que providenciasse fechá-la, somente conservou um único bem, a esperança. E dali em diante, foram os homens afligidos por todos os males.
Pode-se perguntar quanto ao sentido desta lenda: por que uma caixa, ou jarra, contendo todos os males da humanidade conteria também a Esperança? Na Ilíada, Homero conta que, na mansão de Zeus, haveria duas jarras, uma que guardaria os bens, outra os males. A Teogonia de Hesíodo não as menciona, contentando-se em dizer que sem a mulher, a vida do homem não é viável, e com ela, mais segura. Hesíodo descreve Pandora como um "mal belo" (καλὸν κακὸν/kalòn kakòn).
O nome "Pandora" possui vários significados: panta dôra, a que possui todos os dons, ou pantôn dôra, a que é o dom de todos (dos deuses).
A razão da presença da Esperança com os males deve ser procurada através de uma tradução mais acurada do texto grego. A palavra em grego é ἐλπίς/elpís, que é definida como a espera de alguma coisa; pode ser traduzida como esperança, mas essa tradução seguramente é arbitrária. Uma tradução melhor poderia ser "antecipação", ou até o temor irracional. Graças ao fechamento por Pandora da jarra no momento certo, os homens sofreriam somente dos males, mas não o conhecimento antecipado deles, o que provavelmente seria pior.
Eles não viveriam o temor perpétuo dos males por vir, tornando suas vidas possíveis. Prometeu se felicita assim de ter livrado os homens da obsessão com a própria morte. Uma outra interpretação ainda sugere que este último mal é o de conhecer a hora de sua própria morte e a depressão que se seguiria por faltar a esperança.
Um outro símbolo está inserido neste mito. A jarra (pithos) nada mais é que uma simples ânfora: um vaso muito grande, que serve para guardar grãos. Este vaso só fica cheio através do esforço, do trabalho no campo, seu conteúdo então simboliza a condição humana. Por conseqüência, será a mulher que a abrirá e a servirá, para alimentar a família.
Uma aproximação deste mito pode ser feita com a Queda de Adão e Eva, relatada no livro do Gênesis. Em ambos os mitos é a mulher, previamente avisada (por Adão, na Bíblia, ou, aqui, por Prometeu e por Zeus), que comete um erro irremediável (comendo o fruto proibido, na Bíblia, ou, aqui, abrindo a caixa, ou jarra, de Pandora), condenando assim a humanidade a uma vida repleta de males e sofrimentos. Todavia, a versão bíblica pode ser interpretada como mais indulgente com a mulher, que é levada ao erro pela serpente, mas que divide a culpa com o homem.
A mentalidade politeísta vê Pandora como a que deu ao homem a possibilidade de se aperfeiçoar através das provas e da adversidade (o que os monoteístas chamam de males). Ela lhe dá assim a força de enfrentar estas provas com a Esperança. Na filosofia pagã, Pandora não é a fonte do mal; ela é a fonte da força, da dignidade e da beleza, portanto, sem adversidade o ser humano não poderia melhorar.
Referências
↑ Lidell, H. G., Scott, R. A Greek-English Lexicon. Pandora, p. 1091
Os ombros suportam o mundo
-
Carlos Drummond de Andrade
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque ...
A vida acordndo aos 21
A vida é uma caixa de surpreendentes gostos.
Se fossem conhecidos não seriam surpreendentes.
Nos pegamos em nossas contradições.
Nos contradizemos em nossos dias em que resolvemos acordar
e por a vida nos eixos.
Melhor gerar objetivos pra sonhar, que sonhar sem objetivo.
Há quem diga que “quebrar a cara” é ideal.
Mas a cara de quem se quebra já foi quebrada quando subjugamos personalidades em nossos próprios quiméricos.
E ao rachar-se revela faces, ou nos acorda pra ver quem realmente são.
A arte não é bela por nos completar, mas por nos surpreender.
Deveria haver uma lei: Não construa seres humanos, nem os possua, pois um dia eles lhes mostraram a beleza de quem realmente são e que por mais que nos aproveitemos deles, a eles nunca possuiremos.
Apontamos facas pra quem amamos, como se pudéssemos dizer: Mãos ao alto não quebre o diamante que construí de você.
Mas ao tentar roubar o diamante ou intacta-lo, nos vemos menores.
A busca de perfeição nos outro não nos trará a quem se aperfeiçoa são, apenas nos servirá para conhecermos o que temos sido.
A prisão dos sentimentos é a pior que o homem pode experimentar, pois é a mais difícil para se alcançar liberdade.
A fúria não diminui o amor, ainda o que tente revidar.
Brigas são temporais, o amor não. Ele nos mostra, quando apenas sobrar quem realmente nos dê a ele, que a vida não são momentos, mas os momentos que construímos são partes da nossa própria vida.
Não sei mais, e o que sei não é seu é meu. Apenas quero que saibas.
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Foi o que consegui escrever pensando em você.
Te amo.
Matheus Gerhard